Sonho de uma noite sem fim

Consultório: “Então, seus sonhos são menos freqüentes agora?” “Sim, doutor, são.” “O que apareceu no lugar deles? No lugar da sua obsessão?” Não gostava de ser descrito como alguém obsessivo, mas com os anos de experiência em terapia, havia me acostumado. “Apareceu uma imagem.” O doutor se endireitou na cadeira, sua barbicha denunciadora de anos psicanalíticos, foi coçada intelectualmente, como uma imagem cômica de internet, um GIF. “Uma imagem? Poderia me descrever essa imagem?” “Uma borboleta.” As sobrancelhas desenharam uma interrogação. O ar de decepção ficou evidente. “Uma borboleta? Hum... E o que essa borboleta fazia?” O que as borboletas fazem, doutor? Elas voam! “Voavam.” Um silêncio constrangedor. “Vamos, eu sei que você pode me dar mais detalhes dessa borboleta.” Poderia. “Tudo estava branco, e no centro da brancura aparecia uma borboleta, ela batia as asas com suavidade, e até entrar corretamente no meu foco de visão, voava num mesmo ponto. Após isso, zigu...